Vício memorial

Vento trate de voltar e trazer consigo tudo o que me pertencia! Não quero ser um ser vivo sem emoções, tampouco não me recordar das coisas ruins e boas que já vivi. Então trate de voltar, vento! Não quero que você vá embora levanto as dores, as feridas, os tombos e os hematomas pelos quais passei. Fizeram parte da minha vida e tenho que caminhar sempre lembrando deles para não correr o risco de repeti-los. Trate de voltar e quero que volte com as lembranças boas também, para eu perceber que apesar de injusto o ciclo da vida faz sentido. Traga-me as lembranças de infância para eu nunca perder o encanto pela vida. Obrigo-te a trazer até as lembranças do meu primeiro beijo, para eu saber como a vida também pode ser doce e o frio na barriga maravilhoso. Vento traga tudo o que me pertence e tudo a que sou dono! Eu tenho direito de saber que graças a tudo o que vivi, sou digno de lembranças. Vento, não me esconda nada.

O que eu sinto por você...

Talvez eu realmente não consiga entender. Ou talvez eu nem ao menos saiba o que é o amor. Ou melhor, acho que isso sim seja amor, pra que entender, se eu posso sentir, eu consigo te sentir aqui, junto a mim. Eu sinceramente não esperava por você, mais parece que eu sempre soube que viria. Se não real, talvez em sonhos quem sabe. Eu realmente não consigo entender por que meu coração parece pular quando você me olha. Eu não sei o porque desse frio na barriga ao saber que estamos perto de nos ver. Eu não sei porque minhas mãos tremem quando você as segura firme. Eu não sei o porque depois de cada abraço eu sempre desejo mais um, nem que seja, mais um... E parecem que a qualquer momento não vou segurar as lágrimas. E mesmo quando não há motivos sempre parece que estarei prestes a desabar, mais eu sempre espero os seus braços a me amparar. Porque quando você olha eu não consigo mais parar de te olhar? Porque eu não consigo nem ao menos demonstrar que eu gosto mesmo de você exatamente do jeito que és. Eu não acredito em alma gemia, nem mesmo em acaso, mais eu queria ao menos entender o porque que quando te olho eu consigo enxergar todo o restante da minha vida. Você faz eu me sentir de diferentes formas, você ao menos sabe explicar o porque? Me explique por favor, como eu posso me sentir tão pequena diante dos imensos sentimentos que sinto por você. Me explique o que fez comigo, o que fez pra eu te amar tanto. Você pode duvidar, não ligo, ou melhor eu realmente não me importo, eu nunca me senti assim. Nunca senti saudade antes do nosso 'adeus'. Nunca chorei por apenas uma palavra não dita. Nunca me senti segura nos braços de nenhum outro alguém. Nunca senti tanta doçura em apenas um único sorriso. Ah se você soubesse o que meu coração tem a te mostrar. Se você ao menos me deixar te abraçar, nem que seja só uma vez, só mais uma vez. (...)
Eu ao menos queria entender o porque que o mundo já não me importa mais. Porque parece que sempre estamos a sós. Em a cada rosto que olho pareço sempre enxergar o seu. Parece que sempre que o telefone toca espero que seja você, mesmo sabendo que não é, mesmo sabendo que nunca será... Quando sonho com você sempre espero que sonhe de novo e de novo. Jamais vou cansar de vê-lo, de escutar sua voz, de poder te fazer sorrir, mesmo que seja somente em sonhos... Não me importo mais com o orgulho, se hoje meu coração carrega no peito a paixão, tem nas lembranças cada detalhe seu, sem nem ao menos você perceber, eu reparo bem em você. Não quero perder nenhum olhar, nenhum sorriso, nem mesmo o semblante triste, não quero perder nenhum passo que for dado por você, não enquanto eu ainda poder enxergar, nem enquanto eu poder lhe vê. Ah se eu pudesse escolher viveria em meus sonhos, lá é tudo tão perfeito. E lá eu sei, eu posso te vê, posso te ter, sem mentir, sem esconder que eu amo mesmo você. E como entender todas aquelas canções que me lembram você. E aqueles filmes que parece que contam a nossa história, se realmente houver uma história. E quando eu sorrio e me lembro de algo engraçado que você me fez ou falou. E o que fazer com os dias que sempre são compridos quando não converso com você. Me disseram que eu pareço estar mais feliz, não sei se isso pode se considerar uma verdade. Mais eu realmente me sinto feliz, mesmo quando não há motivos lógicos para estar. Mais só de poder ao menos pensar em você o dia inteiro, só de saber que há qualquer hora posso lembrar que você fez e faz parte da minha vida, mesmo que involuntariamente, mais faz, porque tenho sempre o seu olhar em meus pensamentos. Aqueles seus olhos castanhos tão lindos, que parecem sempre brilhar após um sorriso. Ah! Parece que sinto o calor dos seus braços quando me sinto sozinha. Pareço escutar sua voz dizendo sim quando tudo diz que não. Talvez eu esteja ficando louca, mais se a loucura for o caminho pro seu coração, (...)

Admita que me ama

Ambos numa cama daquela loja de móveis planejados que eles sempre visitavam. Por que ela adora sonhar com sua própria casa. E ele adora pensar nos dois tendo a própria casa. Ela ria e se debatia involuntariamente. Ele não parava de fazer cócegas.- Admita que eu sou o melhor no Pôquer, admita! – ele repetia- Nunca direi uma mentira tão grande! – ela diziaConseguiu detê-lo com um travesseiro bem no meio da fuça. Segurava seus pulsos no alto da cabeça, apoiados em almofadas com estampas indianas. Logo seriam mandados para fora da loja.- Admita que me ama! – ela ria- Não amo. – ele brincava- Admita! Ama tudo o que eu faço. Ama quando eu ajeito seu cabelo, amasso sua camisa quando estou com medo, divido o café em duas xícaras e como ando balançando a cabeça.- Não amo, já disse. - Ama meu abraço, minha risada e meu sorriso liso.Ainda rindo, ele tentava desvencilhar-se de suas mãos, mas era impossível. Desde quando ela era tão forte e ele tão fraco?- Ama quando erro no francês e você me corrige. Ama me ver nas minhas peças e como eu sou tão espontânea. Ama até quando estou com raiva e faço aquele bico.A esse ponto ele já havia desistido de lutar contra ela e agora só a encarava, observando aquele olhar inocente. Ela soltara seus pulsos e apenas admirava seu sorriso.- Ama quando fico só te olhando, tentando achar algum defeito. – ela continuavaEles agora já estavam tão perto que era como fossem um só. Magnetismo humano. Os olhos dela já estavam fechados. E as mãos dele acariciavam seus cabelos. Mas os lábios estavam selados. Um atendente os avisou que teriam que parar de fingir que estavam em sua própria casa, ou iriam ser mandados para fora dali. Saíram como se nada tivesse acontecido. Porque nada poderia acontecer.

Estação do amor.

Mamãe, juro que peguei o metrô,
Mas que culpa tenho eu,Se ele se quebrou na estação do amor?

Mamãe, juro que o amei,Mas que culpa tenho eu,
Se pra ele não sou ninguém?Mamãe, juro que tentei,Mas que culpa tenho eu,
Se eu jamais o esquecerei?

Descuidos

Não foram tantos assim os meus descuidos,
Que armazenassem em mim tal desamor.
Nem mesmo culpo as paixões e os desatinos
Pela pouca ilusão que me restou.
Vivi meus dias de incontáveis sonhos.
Se lágrimas verti, também sorri.
E afinal, para cada desencanto,Restava o encanto daquilo que senti.
E hoje, ao que me conste, ainda pulsa.
Meu velho e audacioso coração.
Que na sabedoria das vivências,Anseia por um rasgo de emoção.
Vida que é vida não desiste nunca,
Ainda que a outra vida diga não.

Imaginarium.

Eu não seria capaz, nem que me arrancassem fora o coração, de negar que te amo. Passo minutos, horas, dias pensando em você e, mesmo que não saiba disso, te tenho aqui, no meu coração, na minha cabeça. Sinto seu cheiro, passo minhas mãos pelos macios fios de seu cabelo e sinto a suave textura das suas (mãos) acariciando meu rosto. Ouço sua voz me dizendo as mais belas coisas - coisas que eu não me atreveria a dizer a ninguém, a não ser para você -. Vejo sua boca se abrir e formar aquele fantástico sorriso, que me hipnotiza; consigo, até mesmo, ouvir sua doce risada e, enxergo nos seus olhos, que ela irá sempre existir, mesmo que a graça das minhas piadas sequer venha a aparecer. Abraço-te, pela manhã, como se nunca mais fosse ter a chance de fazê-lo e beijo-te como se essa fosse a única coisa que me mantivesse vivo. O que me dói, o que me mata, o que me martiriza, todos os dias da minha vida, é saber que essas coisas que faço contigo só acontecem dentro do meu imaginário.

O passado virou futuro

Por baixo dos cílios negros e compridos, os olhos cintilavam como mil estrelas. Ela o olhava fascinada, louca para chegar mais perto a ponto de sentir o cheiro de velho - que no entanto não a incomodava. A mãozinha branca estendeu-se até conseguir tocar a frieza dele. Sem medo, ela o agarrou nos braços, e esqueceu que tinha prometido nunca mais se envolver daquela forma. Mas bastou tê-lo com ela, e nada mais importava. As promessas viraram lembranças, o passado virou futuro, e lá estava ela de novo, voltando para a droga que a prendia todos os dias no quarto. A droga que a fazia esquecer dos amigos, das obrigações, da tecnologia, dos motivos que não a levavam a ele. Só ele. E então aconteceu aquilo que as pessoas chamam de amor. Dias, madrugadas, um pertencendo ao outro. Os lindos olhos dela, nele; as lindas palavras dele, nela. E foi assim, mágico, até o momento em que ela teve que devolvê-lo a biblioteca. A promessa? voltou à tona: nunca mais se apaixonar por um livro.